sábado, 15 de outubro de 2011

Mãe acima do peso relata dificuldade para controlar alimentação das filhas


‘Não vou falar que não podem comer se estou comendo’, acredita ela.

A técnica em nutrição Camila Carvalho Fugulin, de 27 anos, conhece toda a cartilha da alimentação saudável. A família dela, porém, não resiste a um pedaço de pizza, ao chocolate ou a um copo de refrigerante. O resultado é que ela e as duas filhas, Maria Eduarda, de 3 anos, e Ana Beatriz, de 8 anos, estão acima do peso ideal. Camila associa o problema à ansiedade e à dificuldade de falar “não” para as meninas. “Não vou falar que elas não podem comer se eu estou comendo”, afirma a mãe.

Camila luta contra a balança desde criança e confessa que não consegue resistir a algumas tentações na mesa. “Eu preciso de chocolate. Parece igual droga, é uma dependência. Eu chego a chorar porque preciso comer chocolate. É desesperador”, desabafa. “Eu sei que eu tenho que emagrecer pela minha saúde, para cuidar delas, mas a ansiedade é maior. Na hora que vou comer uma fruta ou um bolo de chocolate, vou no bolo de chocolate. É bem difícil.”

A mãe evita subir na balança. Na última medição, realizada há seis meses, Camila estava com 120 quilos – ela tem 1,65 metro de altura -, o que é considerado obesidade. A filha mais velha, de 8 anos, está cerca de 20 quilos acima do peso, segundo a mãe. Ana Beatriz sofre na escola por causa das brincadeiras dos colegas e das dificuldades nas aulas de educação física. “Ela chega chorando da escola”, conta Camila.

A filha mais nova precisa perder quatro quilos por indicação médica, pois o excesso de peso prejudica o tratamento para bronquite asmática. “A Maria Eduarda precisa eliminar quatro quilos porque isso dificulta a respiração dela e dá crise. Mas eu não consigo. A gente corta alimentação, come um iogurte à tarde, mas ela fica chorando com fome”, diz a mãe, que confessa ser muito difícil dizer “não” nessas ocasiões.

Como não consegue emprego em sua área de atuação, Camila faz doces e bolos por encomenda, o que também facilita o acesso da família às calorias extras. “Na minha área, eu não consigo arrumar emprego. Ninguém aceita uma técnica [em nutrição] gorda. Eu já fui fazer várias entrevistas, passei em todos os testes e, quando a pessoa me viu, disse que eu não atinjo o perfil. Profissionalmente é péssimo”, afirma.


Alimentação 
A mãe garante que as crianças até comem frutas, verduras e legumes. Mas o grande problema são os lanches no intervalo das refeições. A família também não resiste a refrigerantes, doces e pizzas – o marido trabalha em uma pizzaria. “Tudo o que me dá vontade de comer, eu como. Eu sei que eu não posso, mas vou, faço, e como. Eu preciso comer um doce. E isso passa para as duas, com certeza”, confessa a mãe.

No café da manhã, a família consome café com leite, pão com manteiga, queijo ou requeijão. Camila oferece uma fruta às filhas por volta das 10h e, no cardápio do almoço, há arroz, feijão, carne, legumes. As refeições são geralmente acompanhadas por refrigerante. “À tarde, quando elas ficam na minha mãe, sempre tem um pão de queijo e um leite”, completa a mãe.

Camila conta que Ana Beatriz também come mais do que deveria na escola. “Ela vai para a escola e sei que, além da fruta que eu mando, também come no refeitório [a merenda]. A professora até me chamou porque viu que ela está comendo em excesso”, afirma. A mãe irá levar a filha a um psicólogo por causa da ansiedade da menina. “Quando vamos a alguma festa, ela até passa mal porque come em excesso.”


Tentativas de emagrecer
A mãe diz que já fez vários tratamentos para emagrecer, inclusive com o uso da sibutramina e outros medicamentos. “Já tomei e passo muito mal, minha pressão aumenta, dá tontura, dor de cabeça, eu não posso”, disse. Nesta segunda (10), o governo federal publicou no Diário Oficial da União a proibição de três emagrecedores e a exigência de maior controle sobre a sibutramina.

Na adolescência, Camila conta que perdeu cerca de 20 quilos com um tratamento homeopático, mas os quilos voltaram com as duas gestações. “Engordei bem mais na gravidez da Maria Eduarda e hoje não consigo perder peso”, disse.

Agora, ela leva as meninas a médicos, mas não frequenta há algum tempo consultórios em busca da solução para a obesidade. “Sem nenhum tipo de exame, eles [médicos] mandam tomar remédio. Eu não posso, passo mal. Encaminham para o nutricionista, mas eu sei o que tem que fazer para comer. O problema é a ansiedade. Já fiz tratamento psicológico, mas não adiantou em nada.”

Camila diz que o marido tenta controlar a alimentação das crianças, mas que ele também está começando a engordar. “É a família inteira. Meu marido era bem magro, mas está engordando”, afirma. A mãe tem a consciência que precisa dar o exemplo para as duas filhas emagrecerem. “É muito difícil”, confessa.

Relação com a comida
A endocrinologista Zuleika Halpern, representante do departamento de obesidade infantil da Associação Brasileira para Estudos da Obesidade e da Síndrome Metabólica (Abeso), acredita que a fonte do problema da família está na ansiedade da mãe.

“Nessa idade, o tratamento da obesidade é totalmente dependente do adulto, porque tudo o que a criança come é oferecido por um adulto. Por isso, os hábitos dos familiares são fundamentais. Ela precisa tratar a ansiedade para que possa se organizar e fazer uma alimentação adequada para a família”, defende a especialista.


Ela afirma que, em alguns casos, é necessário o uso de medicamentos prescritos por um médico para o controle dessa ansiedade. Zuleika explica também a declaração sobre a necessidade da mãe de comer chocolate. “O chocolate funciona como droga em quem é muito ansioso. Ela sempre joga a ansiedade dela em cima de alguma coisa”, diz.

A médica explica que, na idade das meninas, nunca é indicado medicamentos para o controle do peso. “Só reeducação alimentar e atividade física. Tem que procurar tirar essas crianças da vida sedentária, levar para os parques aos fins de semana, não fazer estoques de guloseimas. O dia a dia deve ser o mais saudável possível. É lógico que tem férias, Páscoa e Natal. Essas datas não fazem tanta diferença, o que faz é o dia a dia.”

Segundo a endocrinologista, a obesidade “pode ser vulnerabilidade genética mais o ambiente”, o que parece ser o caso das meninas. Por isso, os hábitos alimentares precisam ser o mais saudável possível. “O excesso de peso não favorece absolutamente nada em fase alguma da vida.”

A psicanalista Maria Elizabeth Gatto, especialista em transtornos alimentares e obesidade, afirma que, durante o tratamento, o paciente precisa entender a relação que ele tem com a comida. “Dentro do trabalho psicológico, a gente vai buscar qual o sentido da comida na vida dele. Em que momento a comida passou a ter um espaço tão prioritário? Muitas vezes o paciente declara que o único prazer dele é comer”, diz a especialista. “Dentro do processo, o próprio indivíduo pode descobrir outras possibilidades.”

Fonte: G1



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