O amido e a fécula são as principais fontes de carboidratos na alimentação humana, em todo o mundo. Apesar dos dois termos serem comumente confundidos e a palavra amido ser utilizada para designar todos os carboidratos complexos de uma forma geral, há uma diferença sutil: o amido é extraído das partes aéreas comestíveis dos vegetais, enquanto a fécula advém das partes subterrâneas. Deste modo, temos “amido de milho” e “fécula de batata”.
Há diferentes espécies e cultivares de batata, todas densamente energéticas devido ao grande teor de fécula; a batata-inglesa é o exemplo mais popular de um tubérculo, que é a parte subterrânea arredondada do caule que funciona como reserva de energia para a planta; a batata-doce, por sua vez, é uma raiz tuberosa, muito mais desenvolvida do que os tubérculos e capaz de armazenar muito mais nutrientes, como vitaminas C e E, vitaminas do complexo B, cálcio, magnésio, ferro, fósforo, potássio e betacaroteno.
Além de mais nutritiva, a batata-doce é um vegetal rústico e de cultivo fácil e barato. Ela é cultivada desde as regiões mais secas às regiões tropicais, subtropicais ou temperadas, bem como protege melhor o solo de erosões em relação às culturas de milho, feijão e soja. Consumida nas Américas Central e do Sul há pelo menos dez mil anos, como atestam registros maias e resíduos ressecados, encontrados em cavernas peruanas, posteriormente foi introduzida na Europa por Cristóvão Colombo, sendo hoje produzida principalmente na Ásia.
Existem quatro tipos de batata-doce no Brasil, classificados segundo a cor da polpa: 1) a batata-branca (também denominada angola ou terra-nova) não é muito doce e apresenta polpa bem seca; 2) a batata-amarela também apresenta polpa seca, embora mais adocicada; 3) a batata-roxa apresenta casca e polpa dessa cor, sendo a mais apreciada pelo sabor e pelo aroma; 4) a batata-doce-avermelhada (conhecida pelos nordestinos como coração-magoado) tem casca parda e polpa amarela, com veios avermelhados ou mesmo roxos.
Enquanto a coloração amarelada deve-se à presença de betacaroteno, que possui ação antioxidante e previne certos tipos de câncer, a coloração arroxeada é formada pela deposição de antocianinas, pigmentos naturais com ação igualmente antioxidante, encontrados, por exemplo, também nas frutas vermelhas e na casca da jabuticaba.
A batata-inglesa, bastante difundida, é menos calórica, mas é rica em carboidratos de alto índice glicêmico, os quais fazem com que o pâncreas produza muita insulina, hormônio que conduz açúcar para dentro das células e, em excesso, incentiva o organismo a armazenar gordura, sobretudo na região abdominal.
A batata-doce, por outro lado, é rica em carboidratos complexos de baixo índice glicêmico que, digeridos e absorvidos lentamente, estimulam pouco a liberação de insulina, reduzindo o risco de diabetes, obesidade e, ainda, controlando o apetite. Um desses carboidratos é o amido resistente, que nem sequer sofre digestão e comporta-se como uma fibra insolúvel, atraindo moléculas de açúcar e gordura e retardando a sua absorção, evitando assim o aumento de LDL-colesterol, a fração nociva do colesterol, e de triglicerídeos.
O uso da batata-doce em preparações típicas das festas juninas e em combinação com mel, canela, coco e noz-moscada é bem conhecido. Porém, ela pode entrar em qualquer prato salgado em substituição à batata-inglesa, como purê, salada, sopa e bacalhoada. Embora a quantidade de calorias seja maior, a de nutrientes e compostos bioativos também é, exercendo, ao lado dos carboidratos de baixo índice glicêmico, ação antioxidante, desintoxicante, alcalinizante, anti-inflamatória e de combate ao ganho de peso, ao envelhecimento precoce e ao risco de desenvolvimento de doenças crônicas.
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