Lutando para ganhar mais espaço nas prateleiras e cardápios saudáveis, os alimentos orgânicos levaram duro golpe nas últimas semanas, quando brotos de feijão orgânicos cultivados na Alemanha foram apontados como veículos da transmissão de uma nova e poderosa variação da bactéria E.coli.
O surto de contaminação segue mantendo a Europa em estado de alerta. Até agora, mais de três mil pessoas foram contaminadas. Pelo menos 37 morreram e um quarto dos afetados desenvolveu uma complicação chamada Síndrome Hemolítica Urêmica (SHU), que afeta o sangue, os rins e o sistema nervoso, causando convulsões, AVCs e coma.
Tudo indica que esta variante da E.coli não deve chegar ao Brasil, mas as notícias sobre a contaminação e os efeitos da bactéria no corpo humano vêm gerando dúvidas sobre contaminação de alimentos e principalmente sobre o consumo de orgânicos. Para esclarecê-las, o iG Saúde consultou especialistas no assunto. Confira.
1- O cultivo orgânico é totalmente isento de substâncias químicas Sim. “Para ser orgânico, o alimento deve ser cultivado sem quaisquer substâncias químicas, sejam elas fertilizantes sintéticos solúveis, agrotóxicos ou pesticidas e, no caso de produtos de origem animal, antibióticos ou hormônios”, explica a nutricionista Flávia Morais, da Rede Mundo Verde.
2 - Alimentos orgânicos estão livres de contaminação por bactérias Não, assim como qualquer outro alimento não-orgânico. “Você não faz agricultura em ambiente estéril, em lugar algum. Qualquer planta que esteja no ambiente pode ter contato com uma infinidade de bactérias e fungos”, explica Rogério Dias, coordenador do Agroecologia do Ministério da Agricultura.
Foto: Getty Images Ampliar Orgânicos: como qualquer alimento cultivado na terra, eles não estão livres de bactérias |
O especialista diz que o cultivo de todo tipo de hortaliça – com exceção das cultivadas em água (hidropônicas) – necessita de adubos orgânicos (esterco). Para minimizar os riscos de contaminação, a legislação brasileira exige que o esterco não seja usado na parte comestível dos alimentos. “Além disso, recomendamos aos agricultores que submetam o adubo orgânico à compostagem (técnica para controlar a decomposição de materiais orgânicos)”.
Sobre a contaminação dos alimentos pela bactéria E.coli, ele diz: “No alimento orgânico ou não, ela pode acontecer no solo, pelas mãos do agricultor, no transporte, na comercialização e no próprio manuseio do consumidor. Por isso, qualquer produto que tenha contato com solo precisa passar por um rigoroso processo de limpeza”.
3 - Orgânicos não precisam ser higienizados para o consumo Renato Caleffi, chef do Le Manjue Bistrô – restaurante na capital paulista que só utiliza alimentos orgânicos –, diz que os cuidados de higiene com a comida orgânica em nada diferem dos exigidos na utilização de produtos não orgânicos. “O único cuidado extra é que os produtos industrializados orgânicos, que não utilizam conservantes, têm uma durabilidade menor”.
“Já os alimentos in natura orgânicos, como os folhosos, têm a mesma vida útil, precisam ser bem armazenados e devem ser muito bem lavados antes do consumo. Uma dica neste processo de higienização é usar vinagre ou água sanitária para eliminar as bactérias”, orienta. Caleffi acrescenta que prefere usar toalhas de papel em vez de pano de prato já que os de tecido podem virar moradia de microorganismos e agentes infecciosos.
Foto: Getty Images Ampliar Higiene das mãos: fundamental antes do manuseio de alimentos |
O alimento, orgânico ou não, pode ser consumido cru desde que corretamente higienizado. “Lave em água corrente para retirar a sujeira, deixe de molho por pelo menos 20 minutos em solução clorada. Já são encontradas no mercado pastilhas de cloro para serem diluídas em água para higienização. Ou você pode preparar a solução com 1 colher (sopa) de água sanitária para 1 litro de água. O cozimento em temperatura adequada, acima de 70°C também mata as bactérias”, ensina Flávia Morais, da Rede Mundo Verde.
A higienização, o preparo e o cozimento dos orgânicos são exatamente iguais aos dos outros alimentos, endossa Raquel Pimentel, nutricionista da Educa e Nutre, consultoria em nutrição, em São Paulo. Para diminuir os riscos de contaminação, ela reforça a importância de lavar as mãos antes de manusear a comida. O ideal, defende a especialista, é usar sabonete bactericida. Na ausência dele, detergente e sabão neutro cumprem a função.
5 - O valor nutricional do orgânico é maior do que o não-orgânico Os alimentos cultivados sem substâncias químicas levam essa vantagem, sim. A pesquisadora da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Sonia Cachoeira Stertz, especialista em orgânicos, já comprovou que esses produtos são realmente mais saudáveis e mais nutritivos.
“Primeiro, eles não têm resíduos de agrotóxicos. Depois, por utilizarem fertilizantes naturais, são nutricionalmente mais equilibrados.” Ela realizou uma pesquisa com 10 produtos diferentes, entre eles o leite, o morango e a batata. Os resultados: o leite orgânico tem de 40% a 80% mais elementos antioxidantes; o morango tem mais sais minerais e a batata mais nutrientes do que os convencionais.
“Estudos mostram que os alimentos orgânicos são realmente mais ricos em substâncias antioxidantes, que previnem o envelhecimento e diminuem o risco de doenças cardiovasculares. Pesquisas que compararam o valor nutricional de alimentos orgânicos mostraram que a quantidade de minerais como magnésio e ferro eram maiores que em alimentos não orgânicos”, completa a nutricionista Flávia Morais.
6 - Orgânicos não engordam Em relação aos valores calóricos, eles não têm mais, nem menos calorias do que os convencionais, embora sejam mais ricos em micronutrientes, vitaminas e minerais.
E justamente por esse maior potencial nutritivo, segundo Rogério Dias, especialista do Ministério da Saúde, os orgânicos podem atuar sobre a “fome oculta”, auxiliando a perda de peso. “A fome oculta é provocada pela deficiência de nutrientes. Consumindo um alimento mais rico, a pessoa tende a ficar em maior equilíbrio e mais saciada”.
7 - Orgânicos devem conter selo de certificação
Não é somente a não utilização de agrotóxicos que define se um produto é ou não orgânico. Para ter o certificado que garante o título, produtores devem se enquadrar em mais de 50 normas diferentes de produção e comercialização, incluindo armazenamento, rotulagem, transporte e fiscalização. Entre as exigências estão a preservação da diversidade biológica dos ecossistemas, o manejo correto de resíduos, o emprego de processos que incrementem a fertilidade do solo e a inclusão de práticas sustentáveis.
Em hipótese alguma é permitido o uso de sementes transgênicas, adubos químicos, ou hormônios e antibióticos em animais. Desde o início do ano, o certificado de orgânico passou a ser um selo único em todo o país, o Sistema Brasileiro de Avaliação de Conformidade Orgânica (Sisorg).
Fonte: Saúde IG
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